quinta-feira, 19 de maio de 2011

Entrevista com Ariano Suassuna com direito à participação de Ruben Alves

 
Jornal Infinita: Ariano, normalmente eventos como a Feira Do Livro de Poços de Caldas acontecem só nas capitais, como a Bienal, por exemplo gostaria de saber como é, para o senhor, participar de um evento no interior do Brasil?

Ariano Suassuna: É uma alegria para mim, principalmente se for no interior de Minas, estado o qual eu diria que é um estado nação cultural, e tal qual pelo nordeste, tenho admiração profunda. O que eu amo no Brasil é essa imensa universidade cultural. Eu amo profundamente o país inteiro, mas se fosse pra escolher um outro estado fora do nordeste, seria Minas, porque é um estado que tem um peso visível na cultura Brasileira.
Eu citaria alguns episódios: Ouro Preto, como um todo, o santuário de Congonhas feito por Aleijadinho, a música barroca do século XVIII, João Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade, que foram meus amigos. João Guimarães Rosa fez um poema sobre mim e me dedicou, uma beleza de poema começa assim: “Em tempo duro ou tranquilo, Riobaldo abraça João Grilo/ e já que a arte é vera e una,/ o Rosa abraça o Suassuna”.
Drummond escreveu as coisas mais compreensíveis e mais belas que eu já vi sobre meu romance a Pedra do Reino, éramos amigos fraternos além da grande admiração que eu tinha por ele, então essa identificação com Minas é muito antiga e forte em mim como o  nordeste e interior do nordeste, então uma feira feito no interior de Minas me agrada muito.

Jornal Infinita: Sabemos que essa sua paixão por Minas vai ser retratada no seu próximo livro. Como é que está a preparação desse livro que na verdade vai ser uma trilogia, como estão as escrituras e suas viagens por Minas?

Ariano Suassuna: Você vai perdoar, mas eu não vou responder sua pergunta não, porque eu recebi um pedido da minha editora no Rio, para não falar no livro, tá certo?!

Jornal Infinita: Nós podemos falar então da sua decisão de não adotar o novo acordo ortográfico?

Ariano Suassuna: Mas, como vocês descobrem isso?! que povo mais fofoqueiro! Olhe eu vou lhe dizer da minha vida como professor de Português: tá certo?! Eu estudei quatro reformas ortográficas, agora eu tô com 84 anos, mas perdi minha paciência, eu perdi minha paciência. Meu dever eu fiz. Hoje eu não sou mais professor de Português, mas a Língua Portuguesa é o meu material de trabalho. Eu sou um escritor e posso dizer sem nenhuma vanglória que eu conheço bem o Português do medieval, até hoje, eu estudei Latim. Então quando eu faço uma coisa que contraria a regra eu tô fazendo porque me é necessário, mas assim mesmo eu estudei todas as reformas, até que eu perdi a paciência, eu perdi a paciência no dia que abri uma enciclopédia e estava meu nome escrito com “ç”, olhe isso: Suassuna com ç não é nome de gente, parece nome de cobra, não é, Ariano Suassuna, com ç parece mais é marca de cobra! Aí eu fui conversar com Aurélio Buarque, que era meu amigo. Ele então me disso que nomes indígenas eram escritos com ç e Suassuna é indígena, então eu disse como é que você sabe, os índios nem linguagem escrita tinham, como é que você sabe que quando eles diziam Sua...ssu...na, aí era com ç? Como é que você sabe? Pois bem, mas ainda eu agüentei... mas aí começaram a escrever o nome de Euclydes da Cunha com “i”. ele escrevia com “y” e ninguém tem o direito de mudar o nome de uma pessoa. É uma propriedade da família e da pessoa. Então eu escrevi um artigo para a Folha de São Paulo, eu tinha escrito Euclydes da Cunha com y, quando eu vi, eles tinham corrigido, então escrevi um artigo para lá reclamando e dizendo,que não admitia isso não. Então agora eu escrevo como eu quero, tem hora que penso: a pontuação quem faz sou eu, colocação de hífen é uma coisa pessoal, minha. Pois bem, estão querendo com a difusão dos meios de comunicação de massa, adotar pronúncias inteiramente erradas e feias. O nome ileso, por exemplo, é [iléso], mas estão espalhando o pronúncia de [ilêso], não é ilêso, então eu escrevo iléso e boto um acento agudo. O dos outros podem ser [ilêso], mas o meu é iléso.
Ruben Alves: posso dizer uma coisinha:
Ariano Suassuna: Pode, deve!
Ruben Alves: eu tenho uma raiva dos gramáticos pela presunção de poder mudar a grafia dos nomes. Eu já perdi um livro por causa disso, pois eu escrevo estória e também história. Estória é aquela coisa que você conta e que nunca mais vai acontecer e história aquilo que acontece sempre. Guimarães Rosa na Tutaméia diz assim “a estória não quer saber de nada com a história.” Mas agora eu não posso mais escrever estória, se escrever eu tenho de colocar entre parêntese: revisor, não corrija é estória mesmo. Então os gramáticos não têm o direito de fazer isso. Você falando de colocar os acentos nas palavras, eu já fiz isso com a palavra “anu”. Eu botei anús com acento, disseram que não existia, mas eu boto o acento para não correr o risco das pessoas lerem ânus. Não é ânus é anús.

Jornal Infinita: As suas palestras costumam acontecer como aulas espetáculo, onde você relembra fatos, comenta sobre a atualidade e discorre sobre a Literatura.
Comente um pouco mais sobre essa atitude de ser um palestrante diferente.

Ariano Suassuna: Isso foi uma descoberta que eu fiz como professor. Eu fui professor desde os 17 anos até os 70, quando me aposentei. Eu continuo dando aula, hoje mesmo vou dar uma(se refere à palestra). Eu descobri que o professor tem que ter alguma coisa de ator, se não tiver ele não se comunica. Então eu organizei esse tipo de aula que eu chamei de aula espetáculo, porque mesmo depois, se a aula saiu ruim, eu posso dizer que dei uma aula que foi um espetáculo. Tá certo?! Eu levo sempre pra minhas aulas dançarinos, músicos, cantores, pois aí quando o professor tá muito tedioso eu peço pra cantar, pra dançar, mas é mais pra mostrar com exemplos concretos o que eu estou dizendo de forma cinzenta e teórica.

Jornal Infinita: Você criou o Movimento Armorial pra lutar contra a vulgarização e descaracterização da cultura, você acha que o movimento tem dado resultado?

Ariano Suassuna: Olhe, tem muita coisa contribuindo para melhorar. A coisa não tá boa não, mas tá melhor do que quando eu era jovem, quando o povo brasileiro tinha péssima opinião de si próprio e isso não é verdade. Nós vivemos num grande país e o nosso povo é um grande povo. Um povo que deu o santuário de Congonhas, o livro Grande Sertão Veredas, falando sobre nordeste o Sertões de Euclydes da Cunha. Então um povo desse, eu diria, tem o direito de levantar a cabeça para o mundo. Você diria um escultor nas Américas toda, fora o Brasil? Me mostre um escultor da qualidade de Aleijadinho? Me mostre um músico na qualidade de Villa Lobos, não é?
Isso está começando a aparecer, eu tô vendo inclusive a nossa juventude mais orgulhosa de seu país e de seu povo e isso se deve ao trabalho de todos esses grandes artistas, o Aleijadinho, Heitor Villa Lobos, Euclydes da Cunha, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade etc.

Jornal Infinita: Como professor de português o que o senhor fazia para motivar seus alunos a ler, a se apaixonar pela Literatura?

Ariano Suassuna: Eu fazia isso mais quando eu fui professor de Literatura Brasileira. Eu obrigava meus alunos a lerem e procurava chamar a atenção dos meus alunos para a importância dos nossos escritores. Eu vou lhe dar um exemplo: José de Alencar que é considerado um romancista pra adolescente e um romancista de segunda ordem. Costumam compará-lo com Machado de Assis,  exaltam o Machado e rebaixam José de Alencar, é uma injustiça! Machado de Assis é um altíssimo escritor, mas ele próprio se considerava discípulo de Alencar. Os romances urbanos de José de Alencar deram origem aos romances de Machado de Assis. Com isso eu não tô querendo dizer que ele era um escritor tão importante quanto Machado de Assis, mas ele é o escritor que é o fundador do romance brasileiro. Então você veja uma coisa, eu vou dizer só uma coisa: José de Alencar fez o romance procurando cobrir o tempo e o espaço do Brasil que ele conheceu. Ele pensou em escrever um poema épico em prosa chamado Os filhos de tupã, ele não chegou a escrever, mas os livros indianistas dele, Iracema, Ubirajara vêm daí, pois bem as cenas eram passadas na Amazônia, o Sertanejo era no Ceará, a Guerra dos mascates, no Pernambuco, As minas de prata na Bahia, o Tronco do ipê, no estado do Rio, o Gaúcho, no Rio Grande, ou seja, ele procurou cobrir o espaço brasileiro todo além de cobrir o tempo. Os filhos de tupã, na época do descobrimento, o Guarani, século XVI, XVII, As minas de prata, século XVII, a Guerra dos mascates, século XVIII e os romances urbanos são do século XIX, quer dizer ele tinha um plano, ele pensava o Brasil. Eu mostrava isso aos meus alunos.
Ruben Alves: eu que quero te dizer, tchau.
Ariano Suassuna: Tudo de bom meu amigo, Deus te abençoe! Deus te abençoe!
Ruben Alves: Deus te abençoe, também, eu te desejo vida longa e frutífera, porque ser longa sem ser frutífera não vale a pena.
Ariano Suassuna: as duas coisas.
Ruben Alves: vou entrar em contato.

Obs: Procurei reproduzir as falas dos escritores tais quais foram ditas por eles, para que os leitores sentissem –se também  familiarizados,  próximos deles, como eu estive e vejam que um grande escritor como é o caso dos dois citados, são pessoas comuns, simples, amigáveis... falam o bom português coloquial, embora saibam tudo de todos os portugueses.
Fabiana de Oliveira Ribeiro
 Ruben Alves, Ariano Suassuna e esposa


Ariano Suassuna ao vivo

O escritor pernanbucano Ariano Suassuna, entrou no teatro da Urca, em Poços de Caldas, aplaudido de pé pelas centenas de espectadores que o aguardavam e se retirou do local também ovacionado de pé pelo público, que ao longo de sua fala apresentava várias demonstrações de regozijo ao ouvir de um senhor de 83 anos de idade as mais diversas demonstrações de memória, sensibilidade, destreza com as palavras e simpatia.
Bem humorado, quebrou o cerimonialismo da ocasião satirizando sua entrevista para o Jornal da EPTV, poucos minutos antes e apresentado sua esposa, a quem namora desde 1947.
Ariano justificou que seu apreço pela cultura brasileira não quer dizer que deprecia a cultura estrangeira. Grato a Cervantes, Sheakespeare, Dostoievisk, por exemplo,  explica que é contra o lixo importado pelos meios de comunicação de massa. Usa-se a expressão “é isso que o povo gosta”, mas explica sua opinião contando uma parábola de um amigo chamado Capiva. Segundo Capiva cachorro gosta de osso, mas Ariano afirma que ele gosta de osso, porque ele só recebe osso. Segundo ele, é isso que tem acontecido ao povo Brasileiro, a TV não o deixa entrar em contato com o filé da cultura.
Acusado também de ser inimigo da modernidade, o escritor prova que não precisa de nenhum recurso moderno para realizar suas atividades, inclusive sua palestra, que foi uma das mais cativantes que já tive oportunidade de participar, seu principal recurso: a oratória, que faz de um simples improviso, um discurso, mesmo sendo gago e tendo sotaque nordestino e voz de taquara rachada, como ele próprio confessa, afim de tirar a força das críticas. Afirma que tem memória de “cachorro vingativo” e prova. Após declamar de Camões a Manuel Bandeira, com uma brilhante passagem por um sermão(todinho) de Vieira, a sensação que me tomou de mim mesma e, creio que a todos ali, foi a de total incapacidade mental. Fiquei com vergonha da minha péssima memória, em plenos 30 anos, que me dificulta a declamação de meus próprios poemas.
Ariano conta também que sua paixão pela língua nacional o levou aos 17 anos tornar-se professor da Língua, para entendê-la melhor estudou latim e dá trabalho para os editores mal informados ou formados. Afirma não ter muita imaginação, mas sim atenção às mínimas coisas. Sobre a substituição do livro no mundo moderno, pela tevê, por bandas de rock, por exemplo, diz que a banda até pode ter mais sucesso, mas Os Sertões, têm mais êxito, todo mundo sabe de sua importância, até quem não o leu.
Após aquelas quase duas horas de palestra, o meu sentimento foi, finalmente(após oito anos lecionando Literatura Brasileira e Português na escola) o de entender o que é realmente ser um imortal, um escritor como Ariano Suassuna, sequer envelhece. O simples contar de suas experiências cotidianas já são Literatura e, melhor, nos sentimos fazendo parte dela, um pouquinho imortais também.
Conhecer Ariano Suassuna, fez-me sentir que na simplicidade mora a sabedoria e que a arte mora a eternidade.

Fabiana de Oliveira Ribeiro




sábado, 14 de maio de 2011

Bate papo com o dono da voz do Bob Esponja, na Flipoços 2011

Durante o 1º encontro de Manga e Anime que aconteceu no último dia da Feira do Livro em Poços de Caldas, ouve um bate papo com o dublador Wendell Bezerra que, além de divertir os adolescentes que tomaram quase todo o teatro da Urca, fez importantes considerações sobre o papel da tradução e censura.


Com 36 anos de idade, o paulistano, advogado Wendell Bezerra atua na área desde os oito anos de idade. Também dirige a dublagem de séries e filmes e tem uma escola para dubladores. Tem quatro irmãos, dos quais dois também seguem a carreira de dublador, Ulisses e Úrsula Bezerra.


Entre seus trabalhos mais famosos estão a dublagem de
Goku (anime Dragon Ball Z), Bob Esponja (desenho Bob Esponja Calça Quadrada) e Kenji Narukami/Ryukendo (tokusatsu Madan Senki Ryukendo). Entre os atores que dubla estão Edward Norton, Brendan Fraser, Corey Haim, Leonardo DiCaprio e Robert Pattinson ( filmes Crepúsculo e Lua Nova ).


Wendell começou a trabalhar com quatro anos estreando numa peça de teatro de
Bibi Ferreira, A Gota D'Agua. Segundo ele, sua experiência como ator é fundamental na hora de incorporar os papéis que dubla, pois desenvolver sua sensibilidade e percepção. Na verdade o dublar é também ser ator, afirmou Wendell. O primeiro personagem que dublou foi Jayme em Super Vicky. Sua primeira dublagem em séries japonesas foi no Jaspion, dublando personagens secundários.


Wendell criticou, ainda, a censura adotada por muitas empresas de dublagem, que muitas vezes não são fieis aos textos originais, maquiando e, muitas vezes, descaracterizando a obra. Falou, também, sobre a carreira de dublagem que está em alta no mercado, pois, cada vez mais, aumenta o número de pessoas que preferem cinema e documentários na nossa própria língua, inclusive nos canais pagos, sem falar no advento do DVD. Esse aumento na procura de programações dubladas deve-se a trivialidade que o inglês( principalmente) chegou atualmente.


Ele ainda dá uma dica para quem quer aprender a usar melhor sua voz. Segundo o célebre dublador, a leitura em voz alta é o melhor exercício para treinar a dicção lembrando sempre de respirar só nas pontuações. Para cuidar da voz, evitar o chocolate e dormir bastante.


Caso queira conferir o áudio desse bate-papo, que conta ainda com diálogos entre seus principais personagens acesse:

audio da palestra:
http://www.4shared.com/audio/ERTmsI4B/wendell_bezerra.html






Fabiana de Oliveira Ribeiro

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Fala de Ruben Alves

 O educador, teólogo, psicanalista, escritor e mineiro Ruben Alves, que na edição anterior foi patrono da Feira do Livro em Poços de Caldas, este ano retorna à cidade para novamente maravilhar seus leitores. No dia 6 de maio, o teatro da Urca em sua capacidade máxima homenageou o escritor através da coreografia de alunas que fazem parte do grupo A Voz do Silêncio(três delas deficientes auditivas) sob o som da música Velha Infância e Trio Vocal composto por alunas da Escola Estadual Parque das Nações, que interpretaram as belíssimas músicas gospel: Acredite(Jamili) e Fiel a mim(Eyshila).
O tema da fala de Ruben foi O tempo e a eterna idade, título de um de seus livros e para adentrar no assunto, o escritor aproveitou o gancho criado pela apresentação do grupo A voz do Silêncio para dizer que também é um deficiente auditivo, o tempo  deixou-o assim, não usa aparelho por desconforto. É deficiente visual, usa óculos e uma lupa para procurar palavras no dicionário e ao ver a agilidade dos movimentos coreográficos, das meninas, também concluiu que tem deficiência de pernas. Como suas pernas doem para fazer movimentos comuns aos jovens... a idade trás o tempo das bengalas.
Após ilustrar sua fala ao contar algumas de suas histórias escritas como os Gato que gostava de cenoura, o Patinho que não aprendeu a voar, A menina e o pássaro encantado, Pinóquio às avessas, sua versão para Os três porquinhos e outras vividas, concluiu que o belo vive dentro de nós. A partir do momento que nascemos vamos perdendo dentro de nós mesmos essa beleza, mas ao encontrar com outras coisas belas que existem exteriormente como a arte, por exemplo, algo vibra lá dentro do nosso interior.  A esse vibrar chamamos emoção. A nossa vida é uma busca pela beleza perdida.
Para ele a velhice é o preparar para a despedida. Não deixamos de prestar atenção nas coisas por falta de memória, mas por que nossos olhos procuram outras coisas e nós vamos distanciando nos de tudo. Aliás, contou que numa entrevista que participou o entrevistador  perguntou o porquê de as crianças serem mais inteligentes que os adultos. Na hora, confessou ele, “fiquei sem resposta, mas ela é muito simples, é que as crianças ainda não frequentaram a escola... não estou culpando os professores” concertou.
Quanto á adolescência e juventude o conselho que deu foi este: não adianta ficar falando muito na cabeça dos filhos nem ser bravo, o que os pais  têm a fazer é ficarem por perto para catar os cacos quando o desastre acontecer. Por isso escreveu  O patinho que não aprendeu a voar para comunicar com seu filho, de outra forma, a única que talvez ele lhe desse ouvidos: a literatura. Se o adulto ficar dando conselhos apenas, irão formar adultos quadrados apenas, pois é com a passagem do tempo que cada um de nós vai se encontrar, contudo, às  vezes, não nos encontramos. O jeito que eu tenho para ensinar algo aos jovens é a literatura, afirmou Ruben Alves que foi ovacionado pela platéia.

 Áudio completo da palestra: http://www.4shared.com/audio/hXnPJncq/Ruben_Alves_audio.html




conversa com Ruben Alves momentos antes da entrevist pela EPTV








ele parece ter ficado bravo quando perguntei por que ele deixou de ser pastor...


Minutos antes da palestra no Teatro da Urca


Ruben prestes a exigir um selinho da Gisele da GSC Eventos


homenagem de A Voz do Silêncio






Vocal composto por alunas da Escola Estadual Parque das Nações, que interpretaram as belíssimas músicas gospel: Acredite(Jamili) e Fiel a mim(Eyshila).




Ruben Alves assintindo nós entrevistarmos o Ariano Suassuna no Hotel Minas Gerais






Entrevista concedida por Ruben Alves

Por que à medida que crescemos deixamos de amar sem restrições?
Eu não sei deixamos de amar sem restrições ou se acende dentro de nós o desconfiômetro, porque os apaixonados(falo de experiência própria, sou muito apaixonado) e quando estamos assim, somos dominados por uma idiotisse de que toda a paixão é eterna, mas não é, pois na verdade não estamos amando a pessoa, estamos amando uma fantasia que fazemos da pessoa. Quando crescemos vamos separando a pessoa da fantasia, a fantasia a gente continua com ela, mas a pessoa não, então saímos à procura de outra pessoa que se pareça mais com nossas fantasias.
 Já que estamos falando de amor vou citar um versinho de Fernando Pessoa: “Quando te vi amei-te já muito antes./Tornei a achar-te quando te encontrei.” É a mesma coisa que falei para vocês na palestra, a pessoa amada já estava dentro de mim, mas havia perdido, mas ao ver, tornei a amar.

Todos nós que somos pais e educadores ficamos perplexos ao ver como os jovens desperdiçam o tempo que é uma preciosidade e por isso são carentes, desestimulados, não sabem lutar por seus sonhos, se é que tais sonhos ainda existam. Como agir a esse desafio? Quais sugestões?
Eu lamento muito. Reconheço o problema que muitos enfrentam, mas eu não sei o que fazer, porque eu não soube nem o que  fazer com meus filhos. O Taoísmo é uma filosofia oriental de grande sabedoria e tem como um dos  seus princípios centrais o Wu Wei:  não-ação. Este conceito é o não fazer nada, não agir¹. Um exemplo é o voo do urubu , urubu bate asa? Raramente, eu acho fantástico o voo do urubu, ele abre as asas deixando –se levar pelo vento, ele não pode soprar o vento, mas fica pairando nas nuvens com suas asas abertas. Eu acho que lidar com os filhos é assim, não adianta nada ficar bravo, gritar, ser um velho quadrado. Não adianta dar conselhos aos filhos. Eles não ouvem, é com a passagem do tempo que eles se encontram, por vezes. Por vezes eles não se encontram. Eu não sei o que fazer. O jeito que eu tenho de ajudar as crianças é com a literatura. Os jovens gostam muito do que escrevo, pois eu uso metáforas, imagens, histórias e eu escrevo curtinho. Os professores têm a mania terrível de fichamento, que é uma violência insuportável e outra coisa que até hoje ninguém me  explicou é para que serve a análise sintática. Ficam perdendo tempo com coisas que não são importantes na escola e não dá tempo de ensinar o que é preciso. Por isso escrevo curtinho, se derem um  livro de 150 páginas para um adolescente que nunca leu, ele nunca vai ler.
Quando morei nos EUA, eu fui numa casa e fiquei assombrado com o papel higiênico que eles usavam. Em cada folha do papel higiênico vinham escritas frases filosóficas, eu queria sugerir isso para as fábricas de papel higiênico: use papel higiênico tal, que faz você inteligente, pois, às vezes, é o mínimo esforço o que desperta. Não é pelo muito falar que serei ouvidos, isso foi Jesus que falou, então falar pouquinho, ou não falar nada. Ficar só olhando. Fazer nada: Essa é a filosofia do urubu.

Existe na biblioteca do Vaticano, no teto, uma pintura que mostra a biblioteca de Alexandria. De um lado está Platão com seus discípulos olhando para o céu, de outro lado está Aristóteles olhando para o chão. Hoje vivemos um momento em que a humanidade olha muito para o chão e a gente tem de olhar um pouco para o céu, mas como fazer isso sem usar  a fórmula gasta que já está ultrapassada, como buscamos a fórmula nova sempre foi dita e que não aprendemos, como fazer isso?
Acho que não existe nenhuma receita, se eu respondesse sua pergunta eu admitiria que saberia a resposta. Há  uma  Parábola  de Jesus que diz que o semeador saiu a semear, algumas sementes caíram nas pedras, outras na terra seca, mas algumas caíram na terra fértil e deram muito fruto. Acho que essa parábola se aplica a nós. Nós vamos jogando as sementes na esperança, na esperança(reforçou) que algumas germinem. Não há receita.

 O senhor como poeta acredita que dentro de um coração de um adulto existe uma criança e acha que ela pode reviver um dia?
Existe nessa fala um romantismo, é isso que vamos encontrar nos filósofos mais inteligentes. Um deles e Nietzsche, que viveu no século XVI, que dizia que a única coisa que Deus faz é brincar. Nós éramos crianças enquanto sabíamos brincar  e perdemos o paraíso quando começamos a ficar sérios. Dizia que atingimos o maior grau de  nosso desenvolvimento quando adquirimos o grau de seriedade que as crianças têm ao brincar. A mesma coisa com Grout, um dos pais da psicanálise. Ele diz que  a tarefa do intelectual é ensinar pelas suas piadas e provocar riso pelos seus pensamentos. Fernando pessoa diz que quando tirarem todas as suas máscaras só vai sobrar uma criança, durante a vida inteira só foi uma criança a brincar, vemos isso em Alberto Caeiro. Acho que tenho um espírito de moleque de criança, gosto de brincar, mas tenho um lado adulto que não me deixa brincar direito. As escolas não cuidam de dar... uma educadora que morava numa cidade do  interior de São Paulo, tinha três filhos, mais ou menos da mesma idade. Foi visitar as escolas para saber em qual delas matricular os filhos. Quando chegava nas escolas todas eram a mesma coisa, recebiam-na e iam mostrar as coisas fantásticas da escola,  a quadra poliesportiva, os laboratórios e voltavam para a sala à espera da sua reação. Ela dizia que estava impressionada com a qualidade da escola, mas estava preocupada com duas coisas:  a vida hoje é muito feroz principalmente por causa do mercado de trabalho e gostaria de saber se a escola está preparando as crianças. A diretora então respondia que ali apertavam as crianças ao máximo para que elas possam vencer essa competição. Outra pergunta da mãe era se as crianças iam à escola só em um período o que as crianças fariam no outro período? A diretora respondia que elas recebiam tanto dever de casa que passam o período inteiro trabalhando. A educadora então dizia que era contra apertarem as crianças. No tempo livre acho que elas deveriam brincar. Então foi procurando em todas as escolas, até numa cidadezinha encontrar uma escola de quinta categoria, cujo diretor se preocupava com apenas duas coisas: que os alunos aprendessem  a ler e a escrever. A mãe matriculou os filhos na escola desse diretor.
A coisa mais importante é aprender a ler e escrever, porque a besteirada que se ensina ou que tentam ensinar na escola hoje é uma coisa a assombrosa, eu não sei por que os professores não fazem uma greve, não é possível, não é possível(insistiu) se ensinar  análise  sintática com tanta coisa importante para ser feito. Como coisas da casa da gente. O fato é o seguinte: saímos da escola onde estudamos física, química, o diabo a quatro, mas não aprendemos a resolver os problemas da casa da gente

Quando você está escrevendo de onde vêm suas inspirações?
Não sei! Não é bem assim, quando estou escrevendo é que vem a inspiração, quando estou andando de carro, de repente a idéia vem, às vezes vem quando estou no banheiro.... hoje mesmo vieram umas ideias, que eu já esqueci quais eram, por isso é importante andar com um caderninho para não esquecer. É de repente que vem a inspiração.

Qual mensagem o senhor deixaria para seus leitores?
Não vou deixar mensagem, não sou mais pastor. Quem dá mensagem é pastor.

Por que o senhor não é mais pastor?
Por que não há liberdade.

Como a literatura influenciou sua juventude?
Não influenciou, infelizmente, só fui conhecê-la de verdade aos 40 anos.

¹:. O que o Taoísmo chama de não-ação é, na verdade, uma ação sem intenção, uma ação não intencional. É uma ação que não pressupõem intenção, mas, nem por isso, não representa o não agir. Ou seja, não-ação significa realizar as coisas com naturalidade, sem engenhosidade, sem excesso de predeterminação, sem especulação.


quarta-feira, 11 de maio de 2011

VI Feira do Livro e Flipoços 2011

                                 
 VI Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas foi um sucesso, essa foi a sensação que todos os visitantes, palestrantes, escritores, editoras, organizadores e a imprensa tiveram ao seu fim. A programação teve início em 30 de abril e foi até 8 de maio, no Espaço Cultural da Urca, contando com a presença de escritores renomados como Ariano Suassuna, Ruben Alves, Tatiana Belinky, Inácio de Loyola Brandão entre outros e esbanjou em criatividade e variedade de atrações culturais.
Durante a semana de programações, as milhares de pessoas que visitaram a Feira puderam, verdadeiramente, sentir a magia dos livros. Com atividades variadas, atendendo a todos os gostos literários, crianças, jovens e adultos puderam além de encontrar nos estandes das 70 editoras e livrarias presentes, seus livros de interesse, puderam, também, participar de palestras, bate-papos e contação de histórias. Sem falar do privilégio de tirar uma foto ou pegar um autógrafo do seu escritor  preferido.
As várias formas de linguagem tiveram espaço garantido, inclusive a Literatura de cordel, O Manga, a MPB, o Hip Hop, a literatura fantástica e discussões como no Ciclo de Educação e  cursos como Escola de Escritor   e o Ciclo Gastronomia.
Além de gerar grande movimentação econômica, beneficiando, sobretudo, o setor de serviços, gerando empregos e contribuindo com a educação, informação e cultura da sociedade poços-caldense e sul mineira, a Feira do Livro também demonstra responsabilidade social. Só na versão 2011, foram arrecadados mais de 8 mil livros de literatura, os quais serão doados a bibliotecas, escolas públicas, presídios, entidades filantrópicas e sociais de Poços de Caldas e região.
Segundo Gisele Correia Ferreira, organizadora do evento, as maiores dificuldades enfrentadas na organização da VI Feira do Livro, foram a falta de patrocínios, o espaço físico disponível e a divulgação do evento. No entanto, as limitações não foram capazes de impedir que o decorrer de toda a programação acontecesse com excelência. Gisele,  que já está pensando na próxima Feira, que acontecerá de 28 de abril a 6 de maio de 2012, promete surpresas ainda maiores para 2012.
O evento foi realizado pela GSC Eventos Especiais, empresa com 22 anos de atuação e considerada uma das mais importantes agências de eventos do estado de Minas Gerais, que já conta com uma agenda repleta de outros eventos de igual magnitude para a nossa região, como: o Congresso Nacional de Meio Ambiente de Poços de Caldas(25 a 27 de maio), Poços de Caldas Jazz e Blues Festival(7 a 10 de julho), o Leite Queijo & Cia(22 a 24 de setembro), o Natal Artesanal, Prêmio Maiores e Melhores e Poços Classic Car(6 e 7 de agosto). Acompanhe as datas e demais informações sobre os eventos pelo site: www.gseventos.com.br.
A Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas e Flipoços – Festival Literário de Poços de Caldas são eventos de vanguarda e que têm colocado Poços de Caldas em destaque nacional além de promoverem a região do sul de Minas. Parabéns, aos autores da iniciativa!
Fabiana de Oliveira Ribeiro